terça-feira, 4 de outubro de 2011

LYGIA BOJUNGA


Escritora brasileira, escreveu inicialmente os seus livros sob o nome Lygia Bojunga Nunes. 
Nasceu em Pelotas no dia 26 de agosto de 1932 e cresceu numa fazenda. Aos oito anos de 
idade foi para o Rio de Janeiro onde em 1951 se tornou atriz numa companhia de teatro que 
                  escritora de livros infantis em 1972. 
viajava pelo interior do Brasil. A predominância do analfabetismo que presenciou nessas 
viagens levou-a a fundar uma escola para crianças pobres do interior, que dirigiu durante 
cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para o rádio e a televisão, antes de debutar como 
Num continente que se tornou  conhecido por seu realismo mágico e contos fantásticos, a 
literatura infantil brasileira caracteriza-se por uma acentuada transgressão dos limites entre a 
fantasia e a realidade. Lygia Bojunga é uma escritora que perpetuou esta tradição e a tornou 
perfeita. Para ela, o quotidiano está repleto de magia: onde brotam os desejos tão pesados que 
literalmente não é possível erguê-los, onde alfinetes e guarda-chuvas conversam tão 
obviamente como os peões e as bolas, onde animais vivem vidas tão variadas e vulneráveis 
como as pessoas. Imperceptivelmente, o concreto da realidade transforma-se noutra coisa, não 
num outro mundo, mas num mundo  dentro do mundo dos sentidos, onde a linha entre o 
possível é tão difusa como fácil de ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga juntamente com o 
conforto, a calma alegria com a estonteante aventura e no centro da fantasia da escrita está a 
criança, muitas vezes sozinha e  abandonada, sempre sensível, sempre cheia de fantasias. A 
morte não é tabu, a desilusão também não, mas  além da próxima esquina, espera a cura. 
Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas imagens e não importa se a solidão é muito 
amarga, há sempre um sorriso que expressa uma compaixão com os mais pequenos, que 
nunca se torna sentimental. 
Os textos de Bojunga baseiam-se fortemente na perspectiva da criança. Ela observa o mundo 
através dos olhos brincalhões da criança. Aqui é tudo possível: os seus personagens podem 
fantasiar um cavalo no qual cavalgam a galope ou desenhar uma porta numa parede, que 
atravessam no momento seguinte. As fantasias servem geralmente para ultrapassar 
experiências pessoais difíceis: quando a personagem principal em Corda Bamba, 1979 usa 
uma corda para entrar em uma casa estranha com muitas portas fechadas, do outro lado da 
rua, é na prática uma forma de curar a tristeza depois de ter perdido os seus pais numa morte 
inesperada. Em  A Casa da Madrinha, 1987 percebemos depressa que as experiências 
fantásticas de Alexandre durante a sua busca pela casa longínqua de sua madrinha são na 
realidade a concretização das fantasias de  felicidade e amparo de um menino da rua 
abandonado. É uma história que se aproxima do conto de Astrid Lindgren  Sunnanäng.  A 
fantasia psicológica de Bojunga emerge  novamente nos contos com animais: quando o 
tatuzinho Vítor em O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa a tossir e arranhar o 
sofá – até entrar um momento mais tarde nos seus tempos de infância. 
O realismo mágico e perspicácia psicológica  reúnem-se a uma paixão pelo social e pela 
democracia. Bojunga, que começou a escrever quando ainda dominava a ditadura no Brasil, 
dirigia atividades subversivas.  Isto torna-se mais fácil em  literatura infantil porque – nas 
palavras de Bojunga – os generais não lêem  livros destinados às crianças. Nestes livros, 
encontram-se galos de briga com o cérebro  costurado com arame e pavões com filtros de 
pensamento que se removem com um saca-rolhas. Os ventos da liberdade são fortes nos livros 
de Bojunga, onde a crítica contra a falta de igualdade entre os sexos é um tema recorrente. 
Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre equilibrado pela brincadeira e o humor.

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